O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta terça-feira (30), a proposta do primeiro Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. Entre os objetivos estão equipar o Brasil com infraestrutura tecnológica avançada de alta capacidade de processamento e desenvolver modelos avançados de linguagem em português, utilizando dados nacionais que refletem nossas características culturais, sociais e linguísticas.

Os investimentos previstos totalizam R$ 23,03 bilhões até 2028. As medidas visam fortalecer a soberania e promover a liderança global do Brasil em IA (inteligência artificial) por meio do desenvolvimento tecnológico nacional e de ações estratégicas de colaboração internacional.

Para Lula, o documento elaborado pelos especialistas brasileiros é um marco para o país. “O Brasil precisa aprender a voar, não podemos ficar dependentes para sempre. Somos grandes, temos inteligência, o que precisamos é ousadia para fazer as coisas acontecerem”, disse durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, evento retomado após 14 anos.

“No fundo, é a inteligência humana que pode aperfeiçoar a IA, que nada mais é do que coletar dados, algo que as grandes empresas de tecnologia fazem sem pedir licença, sem pagar impostos, e ainda ganham dinheiro divulgando coisas que não deveriam ser divulgadas”, ressaltou Lula.

O plano aborda o futuro da inteligência artificial e as recomendações de novas políticas ligadas a essa tecnologia em diversas áreas prioritárias, como saúde, agricultura e meio ambiente. Entre os objetivos principais estão transformar a vida dos brasileiros por meio de inovações sustentáveis e inclusivas baseadas em IA, além de formar, capacitar e requalificar trabalhadores da área para suprir a alta demanda por profissionais qualificados.

As recomendações do plano estão divididas em cinco eixos, com 54 ações concretas: infraestrutura e desenvolvimento de IA; difusão, formação e capacitação em IA; IA para melhoria dos serviços públicos; IA para inovação empresarial; e apoio ao processo regulatório e de governança da IA.

Uso Ético

O documento foi aprovado na segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia após um processo participativo envolvendo mais de 300 pessoas da iniciativa privada, especialistas, órgãos de regulação e sociedade civil organizada.

Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), destacou que a IA apresenta riscos, exige gestão responsável e pode exacerbar desigualdades. “Esse plano aborda de forma clara como devemos estar atentos. Ele trata de questões de equidade, transparência, privacidade de dados e proteção da propriedade intelectual. O uso ético da IA deve ser nossa prioridade”, afirmou.

Segundo Nader, o potencial total da IA ainda está inexplorado e a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida, fomentar descobertas científicas e aumentar a produtividade da pesquisa em todas as áreas do conhecimento. “São necessários esforços colaborativos para investir em infraestrutura de dados e treinar pessoal em IA”, disse.

“Esse plano busca promover o desenvolvimento inclusivo e explorar o potencial da inteligência artificial em diversos campos do conhecimento, impactando a produtividade e o comércio global de forma ética, equitativa e alinhada com valores humanos e sustentabilidade ambiental”, completou Nader.

Fonte de Recursos

Os R$ 23,03 bilhões em investimentos para o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial virão de diversas fontes. A principal (R$ 12,72 bilhões) será de créditos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Há ainda recursos não-reembolsáveis do FNDCT (R$ 5,57 bilhões), do Orçamento da União (R$ 2,90 bilhões), do setor privado (R$ 1,06 bilhões), de empresas estatais (R$ 430 milhões) e outros (R$ 360 milhões).

Para a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o plano é robusto e viável. Segundo ela, os investimentos públicos do Brasil se equiparam aos da União Europeia (R$ 16 bilhões entre 2024 e 2027 para setores industriais e sociais).

“Esses investimentos na União Europeia já vêm de antes, mas nós chegaremos com força. Cada pessoa ou coisa conectada à internet produz dados. O Brasil tem muitos dados cobiçados pelas grandes empresas de tecnologia, e teremos nossos dados, integrados com uma nuvem própria, soberana e brasileira. Soberania e autonomia para fazer valer a inteligência do nosso país”, disse.

Supercomputador

No eixo da infraestrutura, o plano prevê a atualização do supercomputador Santos Dumont do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), para atender à demanda de pesquisas na área, tanto pelos centros de pesquisa quanto pela iniciativa privada. Com isso, em cinco anos, ele deve estar entre os cinco computadores com maior capacidade de processamento do mundo, na lista dos top 500. Os investimentos na tecnologia devem ser de R$ 1,8 bilhão.

O LNCC foi fundado em 1980 como unidade de desenvolvimento tecnológico e como órgão governamental provedor de infraestrutura computacional de alto desempenho para a comunidade científica do país. O supercomputador Santos Dumont foi instalado em 2015 e, recentemente, já foi objeto de contrato para aumento de capacidade. O nome é inspirado no famoso inventor e aviador brasileiro.

Fonte: Jornal o Sul